Thamiê Stella reviewed Quarto de Despejo by _
"A fome também é professora"
5 stars
Creio que qualquer coisa que escreva aqui sobre a obra seja redundante: ela fala por si só. Quarto de Despejo é o relato poético e duro de Carolina de Jesus sobre a mazela dos mais vulneráveis. Moradora da favela do Canindé (SP), posteriormente desapropriada para a construção da Marginal Tietê, Carolina descreve em seu diário sua luta cotidiana para garantir a sobrevivência de sua família (ela e seus 3 filhos pequenos) a partir de seu trabalho como catadora de papel e ferro. É um relato duro, pesado, sobre um cotidiano de fome, sobre a violência, o racismo estrutural, a gentrificação, a falência das políticas sociais, e o papel da mulher numa sociedade patriarcal. Muitas vezes usando frases curtas e embebidas em lirismo, Carolina de Jesus dá voz a dor invisível dos moradores das favelas metropolitanas, trazendo humanidade e complexidade a indivíduos que a grande mídia costumeiramente retrata como uma massa …
Creio que qualquer coisa que escreva aqui sobre a obra seja redundante: ela fala por si só. Quarto de Despejo é o relato poético e duro de Carolina de Jesus sobre a mazela dos mais vulneráveis. Moradora da favela do Canindé (SP), posteriormente desapropriada para a construção da Marginal Tietê, Carolina descreve em seu diário sua luta cotidiana para garantir a sobrevivência de sua família (ela e seus 3 filhos pequenos) a partir de seu trabalho como catadora de papel e ferro. É um relato duro, pesado, sobre um cotidiano de fome, sobre a violência, o racismo estrutural, a gentrificação, a falência das políticas sociais, e o papel da mulher numa sociedade patriarcal. Muitas vezes usando frases curtas e embebidas em lirismo, Carolina de Jesus dá voz a dor invisível dos moradores das favelas metropolitanas, trazendo humanidade e complexidade a indivíduos que a grande mídia costumeiramente retrata como uma massa amorfa. Como mais uma prova do racismo e da injustiça, ainda que a obra de Carolina seja hoje considerada um dos maiores livros da literatura brasileira, em vida ela nunca recebeu (principalmente financeiramente) o reconhecimento do sucesso internacional de seu livro. Lembrar e cultuar Quarto de Despejo é também uma forma de lembrarmos como a narrativa de uma mulher pobre e negra foi usurpada pela branquitude de sua época. Esse livro deveria ser, em minha humilde opinião, leitura obrigatória em escolas. Ele traz luz a um Brasil incômodo, mas que tristemente é ainda tão real.